sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Saudade

Floripa


“Não dou muita bola pra essa coisa de natureza, prefiro rua, casas, gente andando nas calçadas para lá e para cá, carros trafegando no asfalto, mas tem duas coisas que eu gosto: árvore e pôr do sol. Nascer do sol também. Mas o problema do nascer do sol é que ele só é interessante durante poucos momentos. Minha mãe gostava de ópera, um dos seus cantores favoritos era o Enrico Caruso e ela gostava particularmente da matinata L’Aurora di Bianco Vestita, de Leoncavallo. Nesta música está dito o problema da aurora. Ela só é agradável de contemplar quando o sol, uma rutilante esfera vermelha, vai surgindo no horizonte, isso dura poucos minutos, logo em seguida a bola vermelha se torna uma brutal fonte de luz branca, apoteótica, impossível de contemplar. É isso: quando a aurora se apresenta de bianco vestita ela fica muito bonita na música de Leoncavallo e na voz de Caruso, mas na vida real fica insuportável. Ao contrário, o pôr do sol vai ganhando beleza continuamente, como aquela beleza que eu estava contemplando, o pôr do sol que nunca agride, a menos que considere uma forma de agressão a melancolia que invade você na hora em que o crepúsculo se instala no mundo antecedendo a noite.”
[O Seminarista – Rubem Fonseca]



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